Campo Grande (MS) – Desburocratizar os processos aduaneiros de modo que as cargas transitem de forma ágil do Brasil até os portos do Chile e vencer os entraves para o asfaltamento de 650 quilômetros, somados trechos do Paraguai e da Argentina. Esses foram os pontos principais da reunião do grupo de trabalho que antecedeu o seminário Corredor Bioceânico Rodoviário “Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, rota Porto Murtinho – portos do norte do Chile. A reunião foi realizada na tarde desta quinta-feira (28) e o seminário acontece amanhã, no Hotel Deville Prime.
A rota em questão liga Campo Grande aos portos chilenos de Antofogasta, Mejillones, Iquique e Arica, via Porto Murtinho, passando pelo Paraguai e Argentina. No total são aproximadamente 1,8 mil quilômetros de rodovia que concretizam uma ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico aguardada há décadas, em especial pelo setor produtivo da região Centro-Oeste.
A rodovia não só abre caminho para os mercados asiáticos, aumentando a competitividade dos produtos brasileiros, como será porta de entrada para importações. “Vai significar ganho de cerca de 20% no valor dos produtos para o consumidor final”, apontou o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de MS (Setlog), Claudio Cavol. “Este seminário talvez nos incentive a fazer uma coisa única e lucrativa para toda a América Latina”, afirmou em seu pronunciamento, durante a reunião.
A proposta é criar uma rota alfandegada, onde o fluxo de cargas seja desimpedido nas aduanas por meio do uso de chips, sem os impedimentos que atualmente emperram o tráfego, com burocracias para a liberação de cargas em todos os países. “Hoje a liberação de um caminhão pode demorar cinco dias no Brasil”, exemplifica Cavol.
Coordenada pelo ministro de carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores, João Carlos Parkinson de Castro, a reunião de hoje demonstra o protagonismo do Estado na concretização da via e teve apresentações de estudos dos quatro países com alternativas técnicas para vencer as deficiências que ainda impedem a concretização do projeto. “Há uma convergência de interesses e no caso de Mato Grosso do Sul há o interesse de escoar produção agrícola, o Paraguai em desenvolver a região do Chaco e a Argentina o Norte do pais e Chile em abrir seus portos e melhorar sua capacidade portuária”, definiu.
Segundo o secretário de Estado de Infraestrutura (Seinfra), Marcelo Miglhioli, estudos preliminares apontam que a rota vai economizar 14 dias no envio de produtos para a Ásia. “É um acesso encurtando em sete mil quilômetros marítimos a distância aos mercados globais que servirá de estímulo à economia de todos os países sul americanos”, afirmou.
Um dos grandes entraves para a concretização do projeto já foi vencido com a formalização em junho de acordo entre Brasil e Paraguai para a construção da ponte rodoviária internacional sobre o rio Paraguai, entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta, no país vizinho. A previsão é de que a ponte demande investimentos de aproximadamente R$ 120 milhões, montante que será dividido igualitariamente entre os dois países.
Entre os pontos debatidos na reunião de hoje, o contorno a uma aldeia indígena no Paraguai, o que torna necessária uma reavaliação de rota, com alteração inclusive do local previsto para a construção da ponte binacional em Porto Murtinho. “A finalidade da reunião de trabalho é justamente essa: alinhar informações sobre essa rota que muitas vezes ficam limitadas no âmbito dos países”, destacou o secretário de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Semade), Jaime Verruck.
O seminário ‘Corredor Bioceânico Rodoviário “Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, rota Porto Murtinho – portos do norte do Chile’ inicia às 9h desta sexta-feira (29), com participação do governador Reinaldo Azambuja e de seis ministros e vice-ministros dos quatro estados envolvidos no projeto.
Rosane Amadori – Segov
Foto: Moisés Silva